“A Gente Não Lê” est une belle chanson que Rui Veloso avait composée au début des années 80 et qu’Isabel Silvestre a repris en 1997 dans l’album “A Portuguesa”. Il est vrai que le texte écrit par Carlos Tê, qui aborde le problème de l’analphabétisme au Portugal, prend une toute autre dimension avec l’interprétation de cette chanteuse portugaise tellement attachée à la musique populaire et aux traditions de son pays.
Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão
Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais
E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz
Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria
De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira
Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
Mas não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem